Autolesão: como identificar sinais, entender causas, estratégias seguras, tratamento e recursos de apoio no Brasil
Lembro-me claramente da vez em que, aos 21 anos, senti uma angústia tão densa que parecia ocupar todo o meu corpo. Eu não sabia como nomear aquilo — apenas recordo o impulso de transformar a dor emocional em dor física para que ela fizesse sentido. Não cheguei a me machucar de forma grave, mas foi o começo de entender, na pele e na prática, como a autolesão pode se infiltrar discretamente na vida de alguém.
Neste artigo você vai encontrar explicações claras sobre o que é autolesão, por que ela acontece, sinais para identificar quem sofre, estratégias práticas e seguras para lidar com os impulsos, como buscar ajuda profissional e recursos confiáveis no Brasil. Minha intenção é falar com empatia, experiência e informação baseada em fontes reconhecidas.
O que é autolesão?
Autolesão (também chamada de autoagressão ou NSSI — non-suicidal self-injury) é quando uma pessoa intencionalmente causa dano ao próprio corpo sem intenção de morrer. Cortes, queimaduras, arranhões, bater a cabeça e outros comportamentos fazem parte desse espectro.
É importante diferenciar autolesão de tentativa de suicídio: nem toda autolesão tem intenção de matar, embora ambas as situações mereçam atenção séria e suporte profissional.
Por que as pessoas se autolesionam?
A autolesão costuma ser uma estratégia de regulação emocional. Em linguagem simples: quando a dor emocional é insuportável, a dor física pode parecer uma forma de liberar ou controlar essas emoções.
- Regulação de emoções intensas (raiva, culpa, vazio).
- Expressão de sentimentos que não conseguem ser colocados em palavras.
- Punição ou autoocorreção por sentimentos de inadequação.
- Alívio de dissociação — para “sentir algo” quando há entorpecimento emocional.
Sinais que alguém pode estar se autolesionando
Reconhecer os sinais ajuda a oferecer suporte cuidadoso.
- Roupas que escondem o corpo mesmo em calor intenso (mangas longas, calças compridas).
- Marcas repetidas no corpo (cortes, queimaduras, arranhões) sem explicação convincente.
- Mudança de comportamento: isolamento, irritabilidade, queda no desempenho escolar/profissional.
- Comentários sobre autodepreciação, desesperança ou culpa excessiva.
O que fazer se você está se autolesionando
Primeiro: você não está sozinho e não é um monstro por sentir isso. A ajuda é possível e eficaz. Abaixo, estratégias práticas que me ajudaram e que recomendo com base em orientações clínicas:
- Respire com foco: 4 segundos inspirando, 6 segundos expirando. Repetir até sentir redução da ansiedade.
- Grounding (técnica de aterramento): liste 5 coisas que você vê, 4 que pode tocar, 3 que pode ouvir, 2 cheiros, 1 sabor.
- Substitua o comportamento por alternativas seguras: apertar uma bola de borracha, desenhar a intensidade da vontade numa escala, escrever uma carta (sem enviar).
- Crie um plano de segurança: quem ligar quando a vontade vier, o que fazer nos primeiros 10 minutos, locais seguros para ir.
- Procure ajuda profissional: psicólogo, psiquiatra ou serviço de saúde mental. Terapias como a DBT (Terapia Comportamental Dialética) têm evidência para reduzir autolesão.
Se estiver em risco iminente de se machucar gravemente ou de suicídio, procure imediatamente o pronto-socorro ou ligue para serviços de emergência.
Como ajudar alguém que se autolesiona
Se você desconfia ou sabe que alguém se machuca, sua postura pode fazer diferença.
- Aborde com calma e sem julgamento: “Percebi X e me preocupei. Você quer conversar?”.
- Escute mais do que fale. Valide emoções: “Deve ser muito pesado pra você”.
- Incentive ajuda profissional e ofereça suporte prático (acompanhar a uma consulta, ajudar a montar um plano de segurança).
- Evite ameaças ou ultimatos; elas aumentam a vergonha e o isolamento.
Tratamentos e abordagens com evidência
Embora não exista uma “cura mágica”, várias abordagens têm mostrado eficácia:
- Terapia Comportamental Dialética (DBT): desenvolvida para regulação emocional e redução da autolesão.
- Terapias focadas em mentalização e terapia cognitivo-comportamental (TCC) adaptada.
- Avaliação psiquiátrica quando há depressão, ansiedade severa ou risco de suicídio — medicação pode ser parte do tratamento.
Buscar um profissional qualificado é essencial para avaliar o quadro e montar um plano personalizado.
Quando buscar ajuda de emergência
Procure atendimento imediato se houver:
- Intenção ou plano para suicídio.
- Sangramento que não para, lesão grave ou risco de infecção.
- Perda do controle, uso de álcool ou substâncias junto com o impulso de se ferir.
Perguntas frequentes (FAQ)
Autolesão é só uma fase?
Nem sempre. Para algumas pessoas é episódica; para outras, torna-se um padrão. O importante é responder cedo com compreensão e tratamento adequado.
Autolesão sempre significa que a pessoa quer morrer?
Não. Muitas pessoas que se autolesionam não têm intenção suicida, mas o comportamento aumenta o risco de lesões graves e também pode coexistir com pensamentos suicidas.
Devo falar com um amigo que se machuca ou deixar o assunto pra lá?
Fale com cuidado. Ignorar pode aumentar o isolamento. Procure um momento tranquilo, seja acolhedor e encoraje ajuda profissional.
Recursos e contatos importantes (Brasil)
- CVV – Centro de Valorização da Vida: ligue 188 (24h) ou acesse https://www.cvv.org.br/
- Ministério da Saúde — informações sobre saúde mental e prevenção ao suicídio: https://www.gov.br/saude/pt-br
- Emergência médica: disque 192 (SAMU) ou procure o pronto-socorro mais próximo.
Referências e leituras confiáveis
- Hawton K, et al. — Revisões sobre autolesão em adolescentes. PubMed: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23200508/
- Organização Mundial da Saúde — Informações sobre prevenção ao suicídio: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/suicide
- Centro de Valorização da Vida (CVV): https://www.cvv.org.br/
Resumo rápido: autolesão é uma resposta a sofrimento intenso. É tratável. A escuta sem julgamento, um plano de segurança e ajuda profissional fazem diferença.
E você, qual foi sua maior dificuldade com autolesão? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo — sua história pode ajudar outra pessoa.
Fonte consultada: Centro de Valorização da Vida (CVV) — https://www.cvv.org.br/
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